Futura tradução de Ainda Estou Aqui, obra de Rubens Paiva, promete provocar debates sobre a ditadura pelo mundo.
Entenda mais sobre a futura obra traduzida de Marcelo Rubens Paiva
Com a vitória de Fernanda Torres no Globo de Ouro, o filme Ainda Estou Aqui (2024), que retrata a ditadura brasileira, alcançou um novo patamar de reconhecimento internacional. A atriz, em sua primeira conquista do prêmio, tornou-se a segunda brasileira a levá-lo para casa, seguindo os passos de sua mãe, Fernanda Montenegro, que havia sido premiada em 1999 pela sua atuação no filme Central do Brasil. Já celebrado pela crítica, o longa agora se consolida como uma das produções mais importantes do ano, destacando a relevância de narrativas brasileiras no cenário cinematográfico global.
Marcelo Rubens Paiva inicia 2025 com grandes expectativas para sua nova obra literária, considerada uma continuação do aclamado Ainda Estou Aqui (2015). O livro, já escrito e entregue à Companhia das Letras, expande a abordagem do autor sobre memória e política, agora explorando como sua família foi profundamente impactada pelo ex-presidente do Brasil, Jair Bolsonaro.
A narrativa, ainda sem título, também examina o período de transformações sociais e políticas iniciado em 2013, quando Paiva se tornou pai e passou a enfrentar perseguições contra sua produção literária por parte do movimento Escola Sem Partido. Mais do que uma crônica pessoal, o livro busca dialogar com uma audiência global, interligando as experiências de sua família com as de outras afetadas pelo avanço de governos autoritários em diferentes partes do mundo.
Esse olhar universal foi fundamental para que Paiva decidisse dar um passo adiante na sua trajetória internacional. Apesar de seu best-seller Feliz Ano Velho (1982) ter sido traduzido para cerca de dez países nos anos 1980 e 1990, o autor não via sua obra como representativa de uma voz brasileira no exterior. "Achava que o papel era de escritores como Milton Hatoum e Paulo Scott, que tratam dos nossos conflitos reais", reflete.
No entanto, a volta do tema da ditadura e o interesse renovado por Ainda Estou Aqui —centrado na história de sua mãe, Eunice Paiva, e no impacto da ditadura militar na vida de sua família — o levaram a reconsiderar. Paiva contratou a agência literária de Lucia Riff para prospectar suas novas obras no mercado internacional, um movimento estratégico que já está dando frutos.
A relevância da tradução transcende a disseminação de uma história brasileira. Trata-se de um diálogo intercultural. Historicamente, obras traduzidas ajudam a desmantelar estereótipos e oferecem perspectivas locais a audiências globais, enriquecendo o entendimento das dinâmicas sociais, políticas e culturais de países como o Brasil. A literatura de Paiva, com suas raízes em memórias familiares, mas com implicações universais, está bem posicionada para cumprir esse papel.
"Quando você fala de uma família atacada em um processo kafkiano de violência sem explicação, está falando a famílias de muitos países amedrontadas com o que vai acontecer com elas", diz o autor. Com os avanços da direita radical em países como Itália, Alemanha e França, o novo livro de Paiva promete, com suas traduções, alcançar ressonância global, ampliando o impacto da literatura brasileira no cenário mundial.